quarta-feira, 31 de março de 2010

Travessia: MG-ES (Parque Nacional do Caparaó)

Nessa trilha, só o cume interessa!

Essa é uma trilha que não é tão difícil, mas é muito linda, de verdade! Se você está começando no mundo das trilhas, gosta de um friozinho e quer pegar um belo amanhecer, o Pico da Bandeira é o lugar certo pra fazer uma expedição. Mas, por que, Bial? O Parque Nacional do Caparaó é um parque muito grande, são 160km de perímetro, mas a área que os aventureiros e turistas geralmente aproveitam é bem menor do que a área total do parque, correspondendo basicamente as trilhas que ligam a portaria mineira à capixaba. Apesar disso, é possível percorrer grande parte destas trilhas de carro, o que facilita muito a vida de quem não está disposto a andar muito. Da portaria mineira pode-se chegar de carro até o primeiro ponto de apoio (muito bem cuidado, por sinal), chamado Tronqueira, com altitude de 1970m. Da Tronqueira percorre-se a pé até o Terreirão, segundo ponto de apoio, que é onde se faz o ataque ao pico, que tradicionalmente é feito de madrugada para apreciar o belo amanhecer lá de cima. Além disso, há guias que te levam lá em cima, e você ainda pode alugar mulas para carregar as suas coisas. E então, tá esperando o que para subir lá?

Apesar de todas essas facilidades, a idéia da travessia é fazer tudo isso sem guia, sem mula e com uma carga de cerca de 20kg nas costas para aguentar os 3 dias de trilha anteriormente calculados em 5.

Vamos à trilha!

Preparação:
A idéia de fazer esta trilha surgiu assim que terminamos a Expedição Diamante Bruto na Chapada Diamantina em agosto de 2009. Guilherme, morador de Vitória deu a idéia de fazer um tour pelo estado do Espírito Santo, onde esta travessia, é claro, estava programada e eu e Indira acatamos essa idéia! Eu cheguei em Vitória no dia 20 de janeiro e Indira no dia seguinte. Arrumamos os mantimentos, suplementos e equipamentos e partimos na noite do dia 21 para a cidade de Manhuaçú-MG, onde chegamos de madrugada e esperamos na rodoviária o primeiro ônibus do dia 22 de Manhuaçú para Alto Caparaó, onde fica a portaria mineira do parque.

Saída da rodoviária de Vitória

Bem, a idéia de pegar estes dois ônibus não saiu tão boa como a planejada. O ônibus chegou cerca de 1:30h mais cedo do que o planejado e tivemos que esperar entre 2 e 6 da manhã, acordados na rodoviária de Manhuaçú até que o primeiro ônibus saísse.
Pegamos o primeiro ônibus para Alto Caparaó, e chegamos a cidade por volta das 7:30h da manhã, se não me falha a memória. Daí era só arrumar as coisas, ligar para a família, caminhar até a portaria e dar início à trilha.


Caminhando para a portaria mineira

1º Dia de Trilha:
Começamos a andar em direção à portaria mineira, que por sinal, fica BEM longe pra quem não dormiu durante toda a noite e ainda tem que andar entre o último ponto do ônibus até lá. Mas depois de uma bela de uma caminhada, finalmente chegamos à portaria mineira!
O plano inicial era fazermos a travessia em 5 dias, então ao nos cadastrarmos na portaria mineira, pagamos a taxa do parque + o valor correspondente a 3 "diárias" (sim, você paga pra entrar e permanecer no parque, não é que nem a Chapada Diamantina, mas o parque tem uma infraestrutura bem legal que eu, particularmente, não gosto, prefiro a natureza com o mínimo de modificações possíveis, mas o valor não é alto, vale a pena), trocamos de roupa no banheiro deles, preparamos a nossa bebida com malto dextrina e partimos para a trilha!

Portaria Mineira!
A "trilha" não é exatamente uma trilha propriamente dita, mas sim uma estrada onde passam um monte de carros e infelizmente, quem vai a pé, como nós, só come poeira, pois quem entra de carro no parque é instruído a não dar carona, pelo pessoal da portaria do parque.
Não há muito o que se ver durante o trecho Portaria mineira - Tronqueira, apenas uma cachoeira, chamada Bonita que fica bem perto do primeiro ponto de apoio. Por sorte, um casal de mineiros que morava em vitória passou de carro por nós quando ainda estávamos a cerca de 2km da Tronqueira e se ofereceram pra levarem nossas mochilas, o que foi um grande alívio, depois de vários km de subidas initerruptas e feitos sem muitas horas de sono na noite anterior.

Chegamos à Tronqueira, nos encontramos com os amigos mineiros e batemos um papo durante um tempo, depois armamos acampamento e almoçamos, pois a fome já tinha nos alcançado há bastante tempo! A Tronqueira é um ponto de apoio bem legal, como todos os que visitamos no parque! O camping é bem confortável, tem mesas, banheiro com toda a infra estrutura (sem água quente, não se anime), pia para lavar os pratos, latas de lixo que são recolhidos todos os dias e um mirante com um visual bem maneiro!

Vista do Mirante

Acampamento na Tronqueira: 1970m de altitude

Acampamento armado e todos com a barriga cheia, descemos pra apreciar a Cachoeira Bonita, que é bem bonita mesmo! Ela fica bem pertinho da Tronqueira, acredito que menos de 15 minutos de caminhada bem fácil, e que valem a pena, pois a água é cristalina e o banho gelado é uma maravilha!

Cachoeira Bonita

Voltamos para o camping, conhecemos mais algumas pessoas, inclusive uma família que acamparia pela primeira vez que ajudamos a montar acampamento.
Durante a noite, pudemos assistir uma tempestade de longe, vista do mirante. Um verdadeiro festival de raios que, infelizmente, não pudemos registrar, mas foi uma imagem que vai ficar guardada na cabeça de todos nós!

2º Dia de Trilha:
Finalmente tivemos uma noite decente! Pra ser sincero, acredito que foi a melhor noite que eu já passei dentro de uma barraca, pois a temperatura era perfeita e ainda tivemos sorte de não ter chovido (muita sorte mesmo, já que o verão é a época de chuvas e tempestades no Caparaó).
O segundo dia seria o dia mais tranquilo. A distância entre a Tronqueira e o Terreirão era pequena e seria a única caminhada significativa que faríamos durante todo o dia, antes do ataque ao pico na madrugada seguinte, então não tivemos pressa em desmontar o acampamento. Saímos relativamente tarde após mais alguns minutos de conversa no mirante da Tronqueira e um belo café da manhã com ovos que o casal mineiro nos presenteou! hahaha
Começamos a subir, mas logo no início resolvemos deixar nossas mochilas no caminho e entrar sem equipamento na bifurcação da trilha que nos leva ao Vale Encantado, que na verdade não tem nada de muito bonito, mas como tínhamos tempo fomos visitar este ponto do parque.

Vale Encantado, mas nem tanto

Após voltarmos do vale, pegamos as mochilas e começamos a andar novamente na direção do Terreirão, que é um ponto de apoio parecido com a Tronqueira em infraestrutura, com exceção de que lá ainda contamos com a Casa de Pedra que é só uma casinha de pedra mesmo em que o pessoal dorme pra tentar se abrigar do frio e a casa dos guardas.

Vista próximo ao Terreirão

Eu e Guilherme na Casa de Pedra

Logo que chegamos, preparamos uma bela lasanha liofilizada, muito boa por sinal! Essa foi a trilha das refeições mais elaboradas, com certeza! hahahaha
Após isso era só curtir o visual, matar tempo e conversar com as outras pessoas que chegavam ao Terreirão, ou que desciam do Pico da Bandeira.
Acabamos cozinhando e dormindo na casa dos guardas, até cerca de 1 da manhã, quando começamos a nos preparar para o início do ataque ao cume do pico por volta das 2 da manhã.
Galera após o jantar na casa dos guardas

Saída pro cume às 2 da manhã

3º Dia de Trilha:
Trilha noturna era algo que eu tinha muita vontade de fazer, e realmente é muito legal! Estava bastante frio, mas depois de começar a caminhar você fica quente e não precisa de tanta roupa senão começa a suar e isso significa problema em baixas temperaturas. Apesar de parecer difícil, a trilha é muito fácil em termos de localização, pois por onde se anda há setas indicando para onde ir, sendo assim, se perder não é um grande problema, é só seguir as setinhas que estão no chão. Ainda assim, nos perdemos durante alguns minutos pois não conseguimos achar uma das setas e perdemos algum tempo procurando, mas nenhum problema que não fosse facilmente resolvido com um pouquinho de paciência.
Finalmente havíamos chegado ao nosso objetivo! Pouco antes das 5 da manhã chegamos ao pico e ainda estava bem escuro (fomos os primeiros a chegar lá naquele dia), sendo assim tivemos tempo pra nos prepararmos para assistir todo o espetáculo do nascer do sol do início ao fim!

Chegamos ao Pico da Bandeira!

Com o passar do tempo, chegavam cada vez mais pessoas ao cume, e infelizmente algumas delas tinham a cara de pau de jogar lixo no chão. Esse é um dos problemas de ser tão fácil o acesso a um parque: o grande fluxo de pessoas trás também muitas pessoas que não se preocupam com a preservação do local.

O sol finalmente começa a nascer! Era tudo muito lindo! Eu estava visivelmente extasiado com tanta beleza e também por estar com a sensação de dever cumprido! Chegar ao cume do Pico da Bandeira era algo que eu tinha muita vontade de fazer, já fazia um bom tempo e eu finalmente havia chegado lá! Foi meu primeiro, e único até agora, contato com altitude, mesmo que moderada (2891,9 metros de altitude) , sem falar de que o frio não era um bom aliado de um baiano que só esteve uma vez no sul do país! hiuoaehuoiheauiohae, mas tudo correu muito bem, eu estava bem agasalhado e muito feliz com toda a situação, não tinha como que me preocupar!

Show da natureza!
Fotografando

Extasiado!

Após todo esse espetáculo da natureza, chegava a hora de sair do cume, "almoçar" de manhã para conseguir algumas proteínas antes de enfrentar a descida até a Casa Queimada que é o ponto de apoio capixaba mais próximo do Pico da Bandeira, mas essa era uma descida um tanto difícil, comparada a região mineira do parque.
Um belo almoço a quase 3 mil metros de altitude!

Barriga cheia, energias recarregadas, hora de começar a descida, que por sinal, finalmente é rodeada por belas paisagens! Saca só!

Uma bela vista

Pico da Bandeira!
Iniciamente queríamos chegar até o cume do Pico do Cristal também, mas decidimos que não ganharíamos tanto em visual chegando lá e nos contentamos com sua imagem e uma caminhada até a sua base.

Pico do Cristal

A caminhada até a Casa Queimada é um tanto complicada e sempre era bom parar e descansar, mesmo que não estivéssemos muito cansados. No meio da caminhada passamos por dois holandeses que estavam subindo até o pico. Conversamos um pouco e continuamos a descida.
Depois de algumas horas, finalmente avistamos a Casa Queimada! Estávamos perto de conseguir algum descanso, pois desde que saímos do Terreirão já fazia mais de 8 horas! Parar, tirar a bota e descansar era questão de honra, de mérito!
Finalmente chegamos ao ponto de apoio capixaba e estávamos exaustos! Conversamos com um rapaz de vitória que disse que ficaria lá por alguns dias, fugindo da loucura da cidade grande. Depois de alguma conversa e descanso, os holandeses chegam a casa queimada também e ficamos os 6 conversando lá (um dos holandeses, Arno, é um apicultor que vive no brasil há um bom tempo e já domina perfeitamente o português). Arno nos ofereceu uma carona até a portartia capixaba e nós aceitamos, pois já estávamos bastante cansados e queríamos aproveitar mais do estado do Espírito Santo! Resolvemos ganhar estes 2 dias! Entre a Casa Queimada e a portaria capixaba ainda nos restava uma grande distancia, e o que tinha pra se ver não nos pareceu que valia a pena, então aceitamos a carona. Já era, definitivamente, hora de ir pra casa.