segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Expedição Diamante Bruto: trilha Lençóis - Vale do Capão em 5 dias.

A seguir o relato da trilha Lençóis – Vale do Capão, com duração de 5 dias, com 4 acampamentos. Saímos sábado pela manhã de Lençóis e chegamos ao Vale do Capão na quarta feira pela tarde, passando pela cachoeira do Palmital e fazendo a Fumaça por baixo e por cima. Tudo isso sem guia, apenas com mapa, bússola e muita força de vontade! Parabéns para todos! Essa viagem vai ficar guardada com muito carinho aqui na minha memória!

Expedição Diamante Bruto

Quem disse que internet não leva ninguém a lugar nenhum? Pelo contrário! Formamos o grupo via internet e fomos parar lááaá na Chapada Diamantina! O grupo foi formado por: Ciro (esse baixinho bonitinho que escreve aqui para vocês ;P), Indira (de Irecê), Guilherme (de Vitória - ES, viciadãããoo em trilhas! Foi ele quem começou a armar o grupo e organizou a viagem), Léo (daqui de Salvador, Bombeiro) e Thaís (também de Salvador). Se não fosse a arte de furar em viagens, teríamos um sexto companheiro que seria o Alex, de Vitória da Conquista, aqui na Bahia, mas infelizmente ele não pôde vir e o pior, ficamos sem abridor de lata. Entretanto, este perrengue foi resolvido graças a minha habilidade em abrir latas com canivetes! hahaha

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Então, no dia 30 de julho, Guilherme e Thaís foram pra Lençóis. Eu só encontrei com eles no dia 31 a tarde quando cheguei. O primeiro dia foi o dia das risadas! Eu e Guilherme sentamos numa mesa dum bar qualquer de Lençóis e tomamos algumas saideiras de 5 da tarde até 9 da noite! Aiehiueahuihae. Como se não bastasse, dois projetos de hippies se juntaram a nós e demos bastante risada com o zilhão de musicas que um dos hippies tocava (apenas com 3 acordes: dó, sol e ré) e algumas metades de musicas que eu e Guilherme conseguíamos lembrar. A sexta feira foi bem legal, deu pra aliviar bastante a ansiedade que eu tinha de cair logo na mata!

No sábado, dia 1º de agosto, Indira e Léo chegaram pela manhã em Lençóis, fechando assim o grupo. Já podíamos começar a trilha, mas a chuva resolveu nos atrasar um pouco. Como ela não nos deu trégua, decidimos começar a caminhar mesmo com o tempo chuvoso.

1º Dia de trilha:
O primeiro dia começou bastante chuvoso. Léo tinha levado uma capa de chuva infantil que serviu bem pra Indira, apesar de que ainda ficou um pouco grande! HAHAHA.
Então, saímos para a trilha Lençóis – Vale do Capão, sem guia, com um mapa topográfico grande da Chapada, o que quebrou vários galhos pra a gente! Inicialmente teríamos que caminhar até o Ribeirão do Meio e de lá, seguir rumo até o Capão. Entretanto, tomamos a trilha errada quando passamos pelo Ribeirão e quase chegamos na cachoeira do Sossego. Perdemos-nos nesse primeiro dia, e apesar de perdemos ele praticamente todo, conseguimos tomar o nosso primeiro ponto de referência e nos localizar bem no mapa. O almoço foi um sucesso! Miojo e sardinha! Haeiuheuai. Muitas pessoas não gostam, mas eu achei delicioso. Sério! Léo estava com tanta fome que nem esperou Indira colocar o tempero do miojo! HAHAHA! Já o primeiro acampamento deu um pouco de trabalho. Reencontramos O Mestre dos Magos, que nos deu a direção certa quando estávamos errados perto da Cachoeira do Sossego, la no Ribeirão de Cima e ele nos mostrou um lugar para acamparmos. Limpamos a área e montamos o primeiro acampamento. Tomamos banho num rio com a água gelaaaada e Indira acabou perdendo as Havaianas após eu passar boa parte do tempo imitando aquele cara do Pânico na TV do “Chineaaaloooo, cadê o chileeeaaalo???” HIUAEHUOEAHU! Ahh, teve uma Cascavel que passou por entre as pernas de Guilherme enquanto ele lavava os pratos no rio, mas isso ele só nos falou em outro dia. Após ficarmos limpos, voltamos pro acampamento, comemos e dormimos após muitas risadas. O primeiro dia foi bem legal! Apesar de nos perdermos, o grupo estava bem tranqüilo e as discussões ainda não haviam começado... por enquanto.



2º Dia de Trilha:
Esse foi o dia em que andamos mais! Começamos a andar pela manhã. A intenção era subir o Veneno, mas foi difícil encontrar a trilha. Começamos a subir, mas nos perdemos e tivemos que voltar. Daí Léo subiu sem mochila e encontrou um caminho. Essa cena iria se repetir bastante ao correr da semana!
Então recomeçamos a subida do morro do Veneno. Uma das subidas mais escrotas que a gente fez, não devido ao nível de dificuldade do morro, mas é que a subida era muito grande e o terreno éramos feito de pedras que irritavam demais os nossos pés. Andamos o dia todo, fizemos várias subidas e descidas bem difíceis e, como estávamos bem atrasados, não paramos para almoçar. Comemos algumas barras de cereais e biscoitos no meio da tarde e continuamos a subir e descer vários morros, o que nos cansou bastante. Passamos por subidas difíceis e descidas bem difíceis como uma já perto do braço de rio que dava na cachoeira do Palmital. Nessa descida tivemos que, praticamente, fazer um rapel, só que sem cordas! HAHAHA! Infelizmente, quando estávamos chegando a base desse morro, lembramos que havíamos, pela primeira de muitas vezes, perdido o facão laaaa nessa descida escrota. Daí, Léo se propôs a subir la novamente e pegar o facão. A nossa preocupação é que já estávamos no final da tarde, e ficamos com medo dele ter que andar só e no escuro, mas deu tudo certo! Léo nos encontrou lá no final da descida e finalmente chagamos ao Palmital! Acampamos lá e passamos a segunda noite! O segundo acampamento foi castigado por uma noite inteira de chuva. Minha barraca quase sucumbiu, mas na 3ª tentativa consegui prender a lona, daí parou de pingar dentro da barraca. Em recompensa, na manhã seguinte a cachoeira do Palmital estava cheia e mais linda do que podíamos imaginar!

3º Dia de Trilha:
Na manhã da segunda feira fomos à cachoeira do Palmital e vimos o resultado de uma grande chuva! Após isso, desarmamos o acampamento e começamos a caminhar em direção a cachoeira da Fumaça. Logo no almoço, achamos mais uma cachoeira que só estava cheia devido à chuva do dia anterior. Não sabemos direito o nome da cachoeira... as pessoas não conhecem ela, e quem conhece, chama de Palmital de Baixo, mas não é tão famosa porque costuma ser apenas água escorrendo pela pedra e não uma cachoeira de fato, mas no dia que chegamos lá, ela estava BEM forte!
A caminhada até o acampamento da fumaça parecia tranqüila até cair a noite e a gente não conseguir chegar até o acampamento. Ficamos presos numa região de leito de rio, com bastante pedra onde não dava pra acampar e não sabíamos onde a trilha continuava. Tínhamos que atravessar o rio, mas não conseguíamos ver um caminho legal, então Guilherme foi atrás de um caminho. A única opção que tínhamos era extremamente difícil, sobretudo pra Guilherme que serviu literalmente de ponte para todos nós podermos atravessar o rio. Ele se escorou em duas pedras distantes e fez bastante esforço para que conseguíssemos atravessar. Se não fosse essa solução um tanto complicada, provavelmente dormiríamos apenas com o isolante e o saco de dormir na pedra, mas graças ao esforço de Guilherme chegamos bem numa área já preparada para as pessoas fazerem acampamento. Infelizmente, quando cheguei no acampamento percebi que havia perdido o meu saco de dormir. Fiquei preocupado em passar a noite no frio, mas tratei de me encobrir dos pés a cabeça e consegui passar a noite bem. Infelizmente as discussões no grupo aumentavam e essa foi a noite que eu achei a pior das 4 que se passaram nessa trilha Lençóis – Capão. Não por perder o saco de dormir, porque pra isso se dá um jeito, mas, na verdade, porque eu acabei ficando estressado com as discussões no grupo que parecia estar tão legal. Enfim, passamos mais uma noite, acampando próximo à gruta da Fumaça.


4º Dia de Trilha:
Junto com o meu saco de dormir, esquecemos também o facão, daí Guilherme acordou cedo e foi leve (leia-se de cueca e sapato, hahaha) buscar o facão e procurar o saco de dormir. Felizmente ele achou o saco de dormir e é mais uma que eu devo pra ele! Depois de acordar, seguimos a trilha até ao outro acampamento que dá acesso a cachoeira da Fumaça por baixo. Encontramos Lázaro, um guia local e um casal de franceses que ele estava guiando. Daí deixamos as coisas no acampamento e fomos juntos conhecer a Fumaça por baixo. Seriam 2 horas de caminhada até a Fumaça. Chegando lá, eu fui o único que não entrei na água, que por sinal estava GELAAADA! A Fumaça é realmente enorme! Não da pra ter noção por fotos, é necessário ir lá e tirar as próprias conclusões! Vale, e muito, a pena!
Voltamos da fumaça até a base e daí rolou uma discussão sobre prosseguir ou não viagem, devido ao seguinte dilema: passavam das 2 da tarde e tínhamos uma grande subida bem difícil pela frente de aproximadamente 3 horas, mas não havíamos almoçado e estávamos bastante cansados e era fato de que não conseguiríamos chegar ao topo da serra do macaco e acampar antes do sol se por, mas havia um local que Lázaro disse ser possível acampar a mais ou menos 2 horas de subida, o que poderia dar tempo e para mim pareceu viável adiantar duas horas de subida. Depois de muita discussão o grupo decidiu seguir em frente, sem unanimidade. Na subida Guilherme apertou o passo e acabou se distanciando do resto do grupo. A subida era realmente difícil e o cansaço agravou ainda mais a situação. É impossível descrever a subida. Só quem sobe vai saber mesmo! Encontramos com um grupo de pessoas descendo a serra, e o guia ficou espantado quando soube que nós fizemos a fumaça por baixo e ainda estávamos subindo o Macaco no mesmo dia, mas não havia volta, tínhamos que continuar. A primeira parada coisa num ponto em que achamos água, mas não havia um lugar legal para acampar. Matamos a sede enquanto Léo procurava algum rastro de Guilherme. A única pista que Léo achou era “Never Land” escrito numa rocha, provavelmente por Guilherme. A questão era: não sabíamos se isso significava um paraíso ou na verdade um lugar que nunca chegava. Ao continuar a subida, descobrimos que, infelizmente, a segunda opção era a correta. Não conseguíamos ver um topo, e quando chegávamos ao topo de um morro, havia mais um topo pra subir na serra do macaco. O sol começava a se por e a lua a aparecer. O cansaço parecia mais presente do que nunca, pelo menos sobre mim. Mas a paisagem compensava! Foi o anoitecer mais lindo que eu vi em toda a minha vida! Por fim a escuridão veio e tivemos que acampar sem água num lajedo no meio da serra do Macaco. Não tínhamos nenhum rio conhecido pra trás e não sabíamos o que viria pela frente, então precisamos racionar a pouca água que tinha restado. Armamos o acampamento na pedra sem poder fixar as barracas e conseguimos fazer fogo, incrivelmente, com certa facilidade. De fome não morreríamos! Pra comer fizemos apenas o que não precisava de água: uma feijoada enlatada com algumas salsichas e uma saladinha enlatada também! Não sei se foi a fome e o cansaço, mas foi uma comida que todo mundo aprovou! Apesar do perrengue que passamos ninguém ficou chateado com a situação. Passamos uma noite legal, ouvindo várias histórias legais que Léo tinha para contar, rimos pra caramba e fomos dormir cedo, pois o dia que vinha pela frente parecia ser longo. Como só tínhamos 2 barracas e 4 pessoas, tivemos que deixar as mochilas enroladas numa lona do lado de fora das barracas e torcemos pra não chover. Felizmente não choveu e deu tudo certo!



5º Dia de Trilha:
Ao amanhecer, fomos presenteados pelo amanhecer mais bonito que já vi! Fiquei extasiado! Dois dos cenários mais bonitos que já vi na minha vida em menos de 24 horas! Se perder foi até um bom negócio! A neblina não deixava o sol aparecer, mas podíamos ver, por uma brecha, alguns morros de pedra clara sendo “pintadas” pela cor laranja do sol nascente. Foi realmente incrível!
Após comer alguns biscoitos, desarmamos o acampamento e continuamos a caminhar. Por sorte, não demoramos a achar um rio e pudemos encher os cantis. Seguimos trilha, mas acabamos nos perdendo mais uma vez. Perdemos cerda de 2 horas até conseguimos achar o caminho certo que seguia para leste. Tivemos que descer mais um morro que havíamos subido logo depois do rio e depois continuar subindo a serra do Macaco! A partir daí as coisas ficaram mais fáceis, acabamos chegando até o mirante da cachoeira da Fumaça por cima, lá reencontramos Guilherme e o melhor de tudo: Havia um tiozinho muito gente fina vendendo suco, refrigerante e pastéis de palmito de jaca! Após passar 4 noites no meio do mato, finalmente conseguimos tomar algo gelado e comer alguma comida que não fosse enlatada nem biscoitos ou barras de cereais! Como se não bastasse, a vista da Fumaça de cima é completamente diferente da de baixo! Você consegue ver boa parte do caminho que fez e fica pirado com a grandiosidade e beleza da região. Foi realmente legal!
A partir daí, eram apenas 6 km de decida até o vale do capão, o que dava umas 2 horas de caminhada e mais ou menos uns 30 minutos até o camping do Seu Dai. Após isso estaria terminada a nossa trilha Lençóis – Vale do Capão. Pois bem, não foi tão fácil como parece. Descidas costumam ser bastante difíceis quando se está cansado e com bastante peso nas costas. Isso sem contar o sol escaldante do inicio da tarde.
Deveria ser cerca de 12:30h quando começamos a descer até o Vale do Capão. Eu, particularmente, cheguei até a base morto. Quando vi uma sombra, desabei e só levantei depois de recuperado. Continuamos andando até o camping do Seu Daí que parecia não chegar. Acredito que o fato de sabermos que eram os últimos 30 minutos de caminhada nos deixou tão ansiosos que o tempo parecia parado. A essa altura éramos apenas eu, Guilherme e Indira, pois Léo e Thaís acabaram ficando pra trás na descida. Chegando no camping do Seu Dai, desabei mais uma vez. Tirar a mochila nunca foi tão bom, apesar dos ombros doendo, as bolhas nos pés, bererê e caixinha de fósforo.
O camping do Seu Dai é uma onda! Ele não estava lá e não achávamos ninguém para nos alojar nos quartinhos que ele aluga por 12 reais a diária. Depois de algum tempo, a esposa dele apareceu e nos alojou sem a mínima burocracia. O contrato era todo acordado oralmente e assim que a coisa rola lá, sem a mínima preocupação e talvez seja esse o fato motivador das coisas serem tão tranqüilas por lá.
Ao chegar ao camping, Thaís decidiu ir pra Salvador. Eu, Guilherme, Léo e Indira decidimos ficar mais 2 dias no camping do Seu Dai e só sair sexta feira para o Cachoeirão, mas aí é outra trilha e outra história!