terça-feira, 28 de junho de 2011

Relato - The Amazing Race


Nascer do sol visto próximo ao Açu (Serra dos Órgãos)

Se passou quase um ano desde que eu fiz a última trilha. A vontade de cair no mato novamente era grande e assim que surgiu a oportunidade de viajar por uma semana, eu e Gulherme começamos a pensar em qual trilha fazer. Logo veio a idéia de fazer duas trilhas curtas ao invés de apenas uma grande e aí decidimos por fazer as travessias Lapinha-Tabuleiro, na Serra do Cipó e a Petrópolis-Teresópolis, na Serra dos Órgãos. Dada a distância entre as duas trilhas e a correria para realizá-las, Guilherme fez uma brincadeira com o programa "The Amazing Race" da Discovery e nomeou a nossa viagem com o mesmo nome do programa.

Saí de Salvador no dia 17 de junho à tarde. Um amigo nosso de BH chamado Fred buscou Guilherme na rodoviária e depois eles encontraram comigo no aeroporto de Confins. De lá seguimos de Kombi para a Lapinha. Chegamos bem tarde, por volta de meia noite e meia. Dormimos e acordamos no dia seguinte para fazer a trilha.

Travessia Lapinha - Tabuleiro

1º Dia de Trilha:

Guilherme praticamente não dormiu. Eu acordei bem tarde, por volta das 9 da manhã. Saímos com Fred e Thiago (amigo de Fred que foi com a gente para a Lapinha) para tomar café. Papeamos depois do café e vimos que tinhamos tempo o bastante para fazer a trilha. A trilha dura 3 dias com 2 noites de acampamento. Era no sábado. Se começássemos nesse dia, terminaríamos na segunda feira, dormiríamos em Tabuleiro e pegaríamos o nosso ônibus para Petrópolis às 23:59h da terça feira. Pensamos em passar mais um dia na Lapinha e só sair no domingo, mas acabamos decidindo por começar no sábado mesmo.

A trilha tradicional dá a volta na Serra do Breu, mas nós decidimos fazer uma trilha alternativa, passando por dentro da Serra, que oferece paisagens mais bonitas do que a trilha tradicional. Saímos por volta de meio dia e começamos a subir. Passamos por uma cachoeira bem modesta onde algumas pessoas tomavam banho, apesar de ser proibido. Subimos a região da cachoeira, acompanhando uma tubulação que passa do lado. Achamos uma trilha e começamos a seguí-la. Acabamos passando por um riozinho que teríamos que atravessar e paramos para comer uma barra de proteína. Na pausa para o "almoço", Guilherme logo percebeu que se acompanhássemos o rio à montante poderiamos encontrar um poço e uma cachoeira. O fizemos. Foi uma mini escalada bem legal. Quando chegamos lá em cima, tinha uma queda bem bonita, mas com pouca água e um poço no final. Tiramos algumas fotos e acabamos descendo para continuar a trilha. Infelizmente dava pra ver lixo jogado próximo à cachoeira.

Cachoeira que encontramos

Após descermos, pegamos as mochilas e voltamos a caminhar. Logo após o rio a trilha começa a subir a serra de fato. O sol estava nos castigando bastante e eu parava muito para descansar. A recompensa, no entanto, era a vista da lagoa da Lapinha que ficava mais bonita a cada metro que subíamos.

Vista da Lagoa da Lapinha

Ao fim da subida, passamos para o lado de trás da serra e começamos a andar numa espécie de pasto. Passamos por uma cerca e seguimos em frente. Chegamos a uma casa que estava desabitada. Senti cãimbra ao chegar na casa. Parei pra comer e descansar. Depois de uma longa pausa, decidimos continuar a caminhada. Descemos o morro em que se encontrava a casa, atravessamos um rio seco e começamos a subir novamente. Depois de andar bastante, subir e descer morro, chegamos num lugar com uma vista incrível da lagoa da Lapinha, mas percebemos que estávamos no lugar errado, que lá não era o lugar certo para descer e encontrar com a trilha tradicional. Voltamos um pouco e continuamos a caminhar, dessa vez mais longe da serra principal. Achamos diversas trilhas que eram na verdade caminhos de gado e outros tipos de animais que acabavam simplesmente do nada ou se dividiam em outras trilhas que também não davam em lugar nenhum. Tentamos de tudo para achar um lugar que fosse possível atravessar a serra, mas não conseguimos achar nada. O mapa que tínhamos não era muito bom e o único tracklog que tínhamos era o da trilha tradicional. Anoiteceu e tivemos que voltar. Voltamos até a casa e acampamos na parte de fora dela. Ficamos preocupados pois estávamos com água suficiente apenas para cozinhar e os rios que estavam próximos à casa estavam na sua maioria, secos. Do lado de fora da casa tinha uma torneira. Abrimos a torneira, mas nenhuma água saiu. Guilherme se lembrou de ter visto algo parecido com um reservatório de água mais cedo, quando passamos pela casa. Subimos até lá e lá estava o nosso reservatório de água, seco. Por sorte havia um registro que ao abrirmos, jorrou água pra dentro do reservatório. Ficamos aliviados de poder tomar banho depois de um dia inteiro sujos. Voltamos para a casa, ligamos a torneira e tínhamos água. Anoiteceu, tomamos um banho geladíssimo, mas muito melhor do que ter que dormir sujo. Cozinhamos, armamos acampamento, tiramos umas fotos do belo céu e fomos dormir.

Céu limpo no primeiro acampamento

2º Dia de Trilha:

No dia seguinte acordei gripado. Nós decidimos tentar mais uma vez achar a saída do outro lado da serra. Comemos a nossa deliciosa abulmina com água e Tang limão e começamos a caminhar. Tentamos achar outros caminhos e andamos bastante por outros lugares, mas foi em vão. Não achamos nenhum lugar para atravessar a serra e tivemos que voltar. É péssimo o sentimento de não ter conseguido achar o caminho, mas era uma volta necessária. Começamos a caminhada de volta e logo estávamos descendo a serra de volta à Lapinha. Em poucas horas estávamos na primeira cachoeira, onde encontramos mais gente. Pensamos em continuar a trilha em direção ao Tabuleiro na sua versão tradicional, mas acabamos desistindo porque não acreditávamos que mais 2 ou 3 dias de trilha iriam adicionar muito em vista. A maior atração seria justamente a Cachoeira do Tabuleiro, que viríamos apenas no último dia da caminhada. Decidimos que não valeria a pena gastar tanto tempo apenas para ver a cachoeira, uma vez que já tínhamos visto uma boa parte da beleza da Lapinha de cima da serra, no dia anterior. Também não sabíamos como eu reagiria à gripe que tinha pegado, então acabamos voltando para a Lapinha para pegar a carona com Fred até Belo Horizonte e adiantar a segunda travessia, o que seria ótimo pra Guilherme porque ele tinha um monte de trabalho da faculdade pra fazer e pouquíssimo tempo para terminá-los.

Encontramos com Fred e Tiago num bar lá na Lapinha e, é claro, fomos tomar cerveja com eles! Contamos do acontecido, bebemos e em algumas horas já estávamos na pista, voltando para BH. Foi bom voltar durante a tarde porque na ida pra Lapinha era noite e não deu pra apreciar a beleza da viagem.

Indo embora para Belo Horizonte

Brincadeira no meio da volta

Já era noite quando chegamos em BH. Fomos para a casa de Fred, encomendamos pizza e eu comprei um remédio para gripe. Dormimos e no dia seguinte fomos a rodoviária para pegar as passagens da Viação Útil para Petrópolis que tínhamos comprado com antecedência pela internet. Ao chegar na rodoviária de BH, fomos até o guichê da Útil (que na verdade é operado por outra empresa na rodoviária de BH) e tivemos a notícia de que não havia nenhuma passagem no nosso nome e não tinha mais nenhuma vaga no ônibus que tínhamos reservado. Foi aí que percebi que o problema que tivemos na primeira trilha, na verdade foi algo bom porque se tivéssemos continuado com a primeira trilha, não chegaríamos a Petrópolis porque não tinha nenhuma passagem no nosso nome pra terça feira. Vimos que tinha vaga para o ônibus da segunda feira, às 23:59h e compramos a passagem. Passamos o resto do dia caminhando pelo centro de BH, tomando cerveja no Mercado Central e terminamos o dia na casa de Fred com o caldo verde que Guilherme fez e, é claro, mais cerveja! Após a pequena farra e depois de arrumarmos tudo, Fred nos levou à rodoviária para pegarmos o nosso ônibus para Petrópolis.

Belo Horizonte

Travessia Petrópolis - Teresópolis

1º Dia de Trilha:
Chegamos na rodoviária de Petrópolis as 5:40 da manhã e pegamos o ônibus das 6h para o terminal de Correias, onde pegaríamos outro ônibus que passava perto da entrada do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Às 7:40 da manhã estávamos no segundo ônibus e chegamos na portaria do parque depois das 8h. Ao chegar na portaria pedimos para adiantar a nossa reserva em um dia e, felizmente, foi possível. Tivemos um problema na portaria porque Guilherme estava com um facão na mochila, o que não é permitido pelo parque. Demos um jeito nesse problema e depois das 9h já tínhamos começado a subir os 1200 metros de desnível do primeiro dia de trilha entre os Castelos do Açú e a portaria de Petrópolis.

Vista da 1ª subida do 1º dia de trilha

A trilha é bem demarcada e o tracklog que eu tinha achado no Clube dos Aventureiros (www.clubedosaventureiros.com) era muito bom. A primeira subida é bem cansativa e não há muito o que ver, exceto por alguns mirantes e uma cachoeira que fica em uma bifurcação no inicio da trilha. Ao chegar nessa bifurcação decidimos por ir até a cachoeira e valeu a pena pra quebrar o clima de subida pesada e sem muitas atrações bonitas do primeiro dia.

Cachoeira Véu de Noiva

Após a cachoeira, a trilha continua subindo e de alguns mirantes é possível ver uma outra cachoeira, bem de longe. Após um certo ponto da subida podemos ver o vale em que se encontra a portaria do parque. Não há muitas atrações na principal subida do primeiro dia, mas após algumas horas subindo, finalmente chegamos no outro lado da montanha que é muito mais bonito.

O outro lado é bem mais bonito

Eu estava subindo muito lentamente e cansando muito rápido. Parava muito frequentemente para descansar. Foi uma mistura de uma gripe forte e falta de preparo, já que 3 semanas antes da viagem eu tinha parado de correr porque tinha machucado a panturrilha e também porque estava chovendo demais em Salvador. Chegar ao Açu foi extremamente cansativo e demorado, mas duas vezes mais recompensante para mim. Após ver toda aquela beleza, percebi que valeu a pena todo o sofrimento do primeiro dia.

Castelos do Açu


Próximo ao abrigo do Açu, encontramos com Amilton, o responsável pelo primeiro abrigo que logo passou um rádio para a portaria avisando da nossa chegada. Amilton é o cara mais gente fina que você pode encontrar no PARNASO! Passamos horas conversando, compartilhamos um lanche no fim da tarde e jantamos junto com ele. Eu estava bastante rouco naquela noite e Amilton nos fez um chá e ainda me deu um remédio para gargarejar. Um segundo grupo chegou ao Açu também naquela noite, mas eles ficaram acampados mais longe do abrigo.
No PARNASO você pode tomar banho quente nos abrigos pagando 10 reais. Foi o que fizemos! Um dos melhores banhos da minha vida! Após tomar banho, comer, tomar o remédio pra gripe e papear com o pessoal, fomos dormir.

2º Dia de Trilha:

Logo cedo, de manhãzinha, Amilton nos acordou para ir ver o nascer do sol. Peguei a câmera e o tripé para registrar aquele momento:

Lua

O sol nascendo

Após o belíssimo amanhecer, voltamos para o abrigo, tomamos café com Amilton e nos preparamos para a longa caminhada que nos esperava. O pessoal que estava acampado no morro do Açu veio até o abrigo. Papeamos um pouco, trocamos e-mail e pedi para que eles tirassem uma foto nossa com Amilton antes que partíssemos.

Eu, Amilton e Guilherme

Guilherme pegou algumas instruções da trilha com Amilton e, por volta de 9 da manhã, partimos. O segundo dia de caminhada da travessia é bastante puxado. Mais puxado do que o primeiro dia, mas a vista é muito mais bonita! Logo na primeira subida pode-se perceber isso! Começamos a andar e eu estava bem! Não estava cansando tão fácil como no dia anterior e o gargarejo que eu tinha feito com o remédio de Amilton tinha funcionado! Eu não estava mais rouco. Descemos o morro dos Castelos do Açu e subimos o morro da Pedra do Marco. Antigamente, neste morro ficava um toten gigante, mas foi destruído por vândalos. Ao chegar na Pedra do Marco é interessante começar a descê-lo pela esquerda ou você vai parar no Portais de Hércules. Muita gente erra esse caminho. Descemos e logo estávamos subindo o Morro da Luva. No meio da subida olhamos pra trás e vimos o pessoal que estava acampado no Açu com a gente passando pelo Morro do Marco. Eles não estavam fazendo a travessia, mas era possível vê-los.

Após o morro da Luva a caminhada continua e enfrentamos uma longa descida até encontrarmos com o Elevador. A princípio, vendo fotos, eu achava que o Elevador era uma parte fácil da trilha, até vê-lo. Foi uma das partes mais íngremes e cansativas da trilha, na minha opinião. É bem extenso e você cansa muito subindo ele se não estiver bem preparado. Pelo visto, eu não estava. Guilherme foi na frente e subiu tudo de uma vez. Eu comecei a subir mas parava constantemente pra ter certeza de que eu estava bem seguro antes de passar pro próximo grampo. Quando sua vida tá em jogo você tende a ser extremamente cuidadoso.

No Elevador. Parece fácil, mas não é.

Depois de um bom tempo subindo, finalmente cheguei no todo do Elevador, morto. Ressussitei depois de uns 15 minutos, comi uma barrinha de proteína, tomei muita água com maltodextrina e voltamos a andar. Foi aí que perdemos a trilha. O tracklog do GPS estava perfeito até chegarmos no Morro da Luva. Depois disso a trilha sumiu e só tínhamos os poucos waypoints marcados nele. Depois que passamos pelo Elevador tivemos que usar a trilha demarcada no mapinha que recebemos na portaria e por ele parecia que teríamos que seguir em frente e descer, logo após o elevador. Por pensar dessa forma, perdemos quase 2 horas até achar o caminho, mas pelo menos tínhamos uma vista bem legal do Garrafão.

Vista do Garrafão

Seguimos em frente, mas o tempo começou a mudar. As nuvens que estavam lá em baixo começaram a subir e prevendo o pior, paramos para botar capa de chuva nas mochilas e comer umas barrinhas. Por sorte elas recuaram depois de algum tempo. Continuamos procurando uma trilha que fizesse sentido, mas foi em vão. Paramos, lemos o mapa de curvas, fomos e voltamos várias vezes mas nada fazia sentido. Até que Guilherme olhou no mapa topográfico e achou uma via de acesso ao Morro do Dinossauro um tanto estranha, mas que deu certo! Seguimos em frente com essa idéia dele e logo começamos a achar vários totens. Após algum tempo achamos um lajedão em que era possível chegar ao morro do Dinossauro. Atravessamos, mas a descida pro Vale das Antas era muito complicada. Tivemos que tirar as mochilas e procurar. A subida do Elevador e a energia perdida subindo e descendo enquanto estávamos perdidos tinham me cansado bastante e eu tinha voltado a situação do dia anterior em que eu parava o tempo todo pra descansar. Eu estava me sentindo como um peso na trilha, até que desequipado eu consegui achar o caminho que iniciava a descida até o Vale da Anta. Isso me animou. É engraçado como seu humor pode mudar tão bruscamente com coisas tão triviais.

Colocamos as mochilas de volta e começamos a descer... até que encontramos um novo problema: como o capim de anta estava muito alto, havia vários caminhos e é complicado se manter na trilha certa por muito tempo. Após várias bifurcações acabamos chegando a um lajedo muito inclinado e sem muitos lugares para apoiar os pés. Guilherme conseguiu passar e achou a trilha do outro lado do lajedo. Eu tinha que atravessá-lo, mas a minha bota tinha o solado completamente inflexível e eu não tinha muita área de atrito com a rocha. Fiquei com muito medo, mas tinha que tentar. Meu coração acelerou e o medo não me deixava ficar concentrado. Se não fosse pela ajuda de Guilherme eu não conseguiria atravessar o lajedo e chegar até a trilha, muito menos subir de volta. Eu não gosto de imaginar o que poderia ter acontecido, mas, felizmente, tudo deu certo. Guilherme colocou o pé dele para que eu usasse de apoio algumas vezes e conseguimos atravessar.

Após completar a descida, finalmente chegamos ao Vale das Antas, onde é possível acampar, mas não é permitido, a menos que você esteja numa situação compreensível para a administração do parque. Encontramos muito lixo no lugar usado como acampamento e percebi porque o parque multa muitas das pessoas que passam a noite lá. Eu estava com pouca água e já estava tomando da que Guilherme tinha, até que conseguimos encher as garrafas num rio próximo. Já passava das 16h e confesso que fiquei tentado a acampar lá, mas decidimos por continuar a caminhada.

Começamos uma nova e longa subida, dessa vez iniciada numa região cheia de lama. O que nos atrasou mais ainda. Eu continuava cansado e cada passo parecia deixar a minha mochila mais pesada. Parava para descansar constantemente. Mais do que no dia anterior, até que em um momento pedi pra Guilherme parar num lugar em que pudéssemos sentar para que eu pudesse tomar uma boa quantidade de maltodextrina, conseguir uma energia extra e continuarmos a caminhar. Paramos e bebi o máximo de malto que pude. Comi uns doces e coloquei alguns tic tacs na boca para energia de rápida absorção até que a malto começasse a fazer efeito e voltamos a caminhar. Não pareceu como que adiantou muito, mas logo estávamos na Pedra da Baleia e paramos mais uma vez para rever o nosso progresso e decidir por onde seguríamos. Após esta pausa, seguimos em frente para tentar chegar ao famoso Cavalinho. A trilha estava bem batida e fácil, até que acabou. Tivemos que parar e tirar as mochilas mais uma vez para achar o caminho, mas dessa vez só Guilherme foi procurar e eu fiquei descansando. Depois de algum tempo ele achou o caminho e seguimos a trilha que sumia e reaparecia constantemente até que chegamos ao que Amilton tinha chamado de "Mergulho" enquanto conversava com Guilherme mais cedo, antes de partirmos do Açu. É realmente de dar medo e eu demorei um bom tempo até acreditar que eu podia passar, mas depois que tentei, até que não foi tão difícil. Guilherme desceu a primeira parte e pegou a minha mochila. Então eu desci a primeira e a segunda parte, peguei a minha mochila de volta e ele desceu. Continuamos a trilha, que começa a subir. Eu sentia que estávamos perto do Cavalinho, mas o sol já tinha começado a se por. Eu tinha medo de ter que passar pela subida do Cavalinho à noite porque tinha ouvido muito sobre o seu grau de dificuldade. Por sorte, chegamos lá antes que anoitecesse e conseguimos atravessá-lo sem muitos problemas, apenas tendo que passar as mochilas de mão em mão. Como de costume, achamos mais lixo na região do Cavalinho. Guilherme carregava uma garrafa pet de 2 litros e eu uma lata de sardinha que tínhamos encontrado próximo ao Cavalinho.
Seguimos em frente, digo, pra cima, pois é uma subida muito íngreme e logo tivemos que pegar as lanternas, pois anoiteceu. Chegamos a um lugar digno de foto: uma escada no meio da subida! Eu falei que era íngreme! hahahaha Infelizmente eu já não tinha mais paciência para tirar fotos. Só queria chegar ao Acampamento 4 próximo à Pedra do Sino. A subida era extremamente íngreme e eu estava muito desanimado porque a montanha que estavamos subindo era enorme! Tínhamos 2 possibilidades de caminho:
1) A trilha poderia continuar subindo a montanha,ou;
2) A trilha poderia dar a volta na montanha, uma vez que sabíamos que o acampamento da Pedra do Sino não ficava muito alto.

Fosse qual fosse o resultado final da trilha, sabíamos que teríamos que andar bastante durante a noite até o acampamento. Então apertamos o passo e confesso que fiquei um pouco feliz quando descobri que não teríamos que subir a montanha inteira. Logo a trilha deixou de ser tão íngreme e passamos a andar num plano e até a descer um pouco. Foi aí que progredimos! Acho que o meu corpo cansou de ficar cansado e eu já não parava tanto para descansar. Talvez a maltodextrina tivesse começado a fazer efeito. Eu estava com muita fome, cansado, sujo e o frio começava a bater, mas continuei andando. Guilherme nunca parou.
Depois de algum tempo andando no escuro, voltamos a subir e logo avistamos uma luz no vale à nossa esquerda. Eram pessoas, finalmente! Gritaram para nós e perguntamos se ali era o abrigo 4. Sim, era! Comecei a andar como nunca, mas acabamos passando da trilha que descia para o abrigo despercebidos. Era muito ruim de enxergar com a noite e principalmente com o capim de anta tão alto. Gritaram para que voltássemos. O fizemos. Um dos rapazes responsáveis por tomar conta do Abrigo 4 começou a subir para nos ajudar na descida. Encontramos com ele e em menos de 15 minutos estávamos no abrigo. Poucas vezes senti um alívio tão grande. Poucas vezes senti tanta felicidade em ter um lugar descente pra dormir. Em poder ficar abrigado do vento. No dia a dia a gente parece não dar tanta importância a isso. Naquele fim de tarde e início de noite era tudo o que eu queria.
Chegamos empolgados com o banho quente do Abrigo 4, mas recebemos a notícia de que o gerador estava quebrado e não havia possibilidade de tomar banho quente pois eles não tinham como bombear a água até o reservatório. Guilherme foi para o banheiro e "tomou um banho de álcool". Eu apenas coloquei minhas roupas de frio e comi uns biscoitos até que ele terminasse o banho dele. Eu estava com muito frio e gripado. Optei por não tomar banho. Após armarmos o acampamento, Guilherme cozinhou o nosso famoso Espaguete ao molho de frutos do mar (miojo e atum, dessa vez) hahahaha. Nos esbaldamos! Na fome que estávamos, esquecemos de fazer o tradicional suco e quando lembramos, não paramos de comer para prepará-lo. Lavei o que usamos, escovei os dentes e fomos dormir, cedo.

3º Dia de Trilha:

Guilherme me acordou cerca de meia hora antes do sol nascer e me perguntou, ironicamente, se eu queria ver o nascer do sol na Pedra do Sino. Com os pés doendo, cansado e todo quentinho no meu saco de dormir, respondi que não, pro alívio dele! hahahaha
Dormimos um pouco mais até que levantamos para tomar café. Passamos um bom tempo conversando com os dois rapazes que tomavam conta do abrigo enquanto o casal que também estava acampando continuou na barraca deles. Foi uma conversa legal, uma vez que na noite anterior nós não tivemos muito tempo de papear com o pessoal. Eles ainda nos ofereceram café, o que caiu muito bem, já que ainda fazia muito frio. Depois de um bom papo, levantamos acampamento, arrumamos as mochilas e seguimos em frente, por volta de 9 da manhã, mais uma vez.

A caminhada dessa vez era mais tranquila, sem bifurcações e apenas com descidas. Entretanto durava normalmente de 3 a 4 horas e não tinha praticamente atrativo nenhum. Estávamos descansados, mas nossos pés doíam muito. Foram 4 horas de intensa dor nos pés e pouca ação. Encontramos algumas pessoas subindo a trilha, já que era início do feriadão, o que deixou a descida um pouco menos entediante.
Chegamos na portaria de Teresópolis e pegamos um ônibus para o Rio de Janeiro, onde tomamos um belo de um banho por 5 reais. À noite Guilherme voltou para Vitória e eu segui para Juiz de Fora para rever amigos. No domingo voltei para Salvador.

Foram duas trilhas que me ensinaram muito! Me ensinaram a ser mais humilde em relação às dificuldades que uma montanha podem me proporcionar. Aprendi a desistir e voltar quando não conseguíssemos mais avançar. Mais uma vez percebi que não dou valor a coisas que considero simples no dia a dia, como simplesmente ter um lugar abrigado para dormir. Aprendi mais sobre os meus limites e como trabalhar para superá-los, entre outros aprendizados que as trilhas sempre me ensinam. Voltei vivo e mais forte! Agora é me preparar pra próxima!